Há fins-de-semana em que não acontece nada digno de registo. Há outros, como este, ricos em eventos que nos fazem reflectir.
Para mim, este fim-de-semana começou logo na Sexta-feira com uma ida ao teatro. Em Oeiras, no Auditório Municipal Eunice Muñoz, assisti a uma excelente interpretação da mulher que dá o nome à sala de espectáculos. Aos 81 anos, Eunice Muñoz mostra por que razão é considerada por muitos a melhor actriz portuguesa. Na pele de Miss Daisy, a actriz, juntamente com Guilherme Filipe e Thiago Justino (grande interpretação no papel de Hoke Coleburn) leva-nos numa viagem ao passado que de ultrapassado nada tem.
Escrita por Alfred Uhry, "Driving Miss Daisy" estreou pela primeira vez em Nova Iorque, em 1987, e conta a história de amizade entre uma idosa judia sulista e o seu motorista afro-americano. A primeira, uma mulher rica, culta e independente. O segundo, um homem pobre, analfabeto e marcado pela violência do racismo. Dir-se-ia que estas duas pessoas nada têm em comum que as possa levar para lá de uma relação estritamente contratual. Mas as aparências de facto iludem e, com o desenrolar da estória, apercebemo-nos que aquelas duas pessoas, tão diferentes entre si, caminham na mesma direcção, acabando por se tornarem no melhor amigo um do outro.
Ao longo de 25 anos, Miss Daisy e o seu motorista Hoke não só partilham o tempo, mas também lembranças, tristezas e alegrias. A diferença que inicialmente os separava e que era o reflexo da própria sociedade em que viviam, revela-se uma mais-valia para ambos. O motorista, que pensava nunca conseguir fazer mais do que ver as imagens do jornal, aprende a ler e a professora, que julgava poder viver sem a ajuda de ninguém, aprende que sozinha não é nada. A força da amizade que os une é por si só a prova de que as suas vidas têm significado e que quem tem amigos nunca está só.
No Sábado fui até ao cinema São Jorge ver o filme "Electroshock", um entre os muitos que fizeram parte do cartaz do 10.º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa. Trata-se de uma estória simples, um pouco rudimentar do ponto de vista técnico, mas de uma forte carga dramática e emotiva. Também aqui se revela a importância do outro nas nossas vidas.
Algures no passado franquista da década de 70, duas mulheres, professoras, conhecem-se e a relação de amizade que as aproxima transforma-se numa relação do mais dedicado amor que o preconceito e a ignorância de uma sociedade fechada sobre si mesma tenta destruir com electrochoques.
Numa época em que homossexualidade ainda era considerada pela Organização Mundial de Saúde como doença, aquele era o tratamento cruel a que muitas mulheres e homens, com uma orientação sexual diferente da estabelecida, eram submetidos. As sequelas, essas, poderiam tornar muito difícil uma vida já de si bastante dificultada.
Três décadas depois, a homossexualidade já não é considerada uma doença, mas a diferença ainda é motivo para o escárnio e para o insulto. Quantos homens e mulheres se escondem ainda dentro do armário, sós e angustiados por não poderem ser o que são: simples homens e mulheres com desejos, sonhos e ambições em tudo semelhantes aos dos considerados "normais"?
Para mim, este fim-de-semana começou logo na Sexta-feira com uma ida ao teatro. Em Oeiras, no Auditório Municipal Eunice Muñoz, assisti a uma excelente interpretação da mulher que dá o nome à sala de espectáculos. Aos 81 anos, Eunice Muñoz mostra por que razão é considerada por muitos a melhor actriz portuguesa. Na pele de Miss Daisy, a actriz, juntamente com Guilherme Filipe e Thiago Justino (grande interpretação no papel de Hoke Coleburn) leva-nos numa viagem ao passado que de ultrapassado nada tem.
Escrita por Alfred Uhry, "Driving Miss Daisy" estreou pela primeira vez em Nova Iorque, em 1987, e conta a história de amizade entre uma idosa judia sulista e o seu motorista afro-americano. A primeira, uma mulher rica, culta e independente. O segundo, um homem pobre, analfabeto e marcado pela violência do racismo. Dir-se-ia que estas duas pessoas nada têm em comum que as possa levar para lá de uma relação estritamente contratual. Mas as aparências de facto iludem e, com o desenrolar da estória, apercebemo-nos que aquelas duas pessoas, tão diferentes entre si, caminham na mesma direcção, acabando por se tornarem no melhor amigo um do outro.
Ao longo de 25 anos, Miss Daisy e o seu motorista Hoke não só partilham o tempo, mas também lembranças, tristezas e alegrias. A diferença que inicialmente os separava e que era o reflexo da própria sociedade em que viviam, revela-se uma mais-valia para ambos. O motorista, que pensava nunca conseguir fazer mais do que ver as imagens do jornal, aprende a ler e a professora, que julgava poder viver sem a ajuda de ninguém, aprende que sozinha não é nada. A força da amizade que os une é por si só a prova de que as suas vidas têm significado e que quem tem amigos nunca está só.
No Sábado fui até ao cinema São Jorge ver o filme "Electroshock", um entre os muitos que fizeram parte do cartaz do 10.º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa. Trata-se de uma estória simples, um pouco rudimentar do ponto de vista técnico, mas de uma forte carga dramática e emotiva. Também aqui se revela a importância do outro nas nossas vidas.
Algures no passado franquista da década de 70, duas mulheres, professoras, conhecem-se e a relação de amizade que as aproxima transforma-se numa relação do mais dedicado amor que o preconceito e a ignorância de uma sociedade fechada sobre si mesma tenta destruir com electrochoques.
Numa época em que homossexualidade ainda era considerada pela Organização Mundial de Saúde como doença, aquele era o tratamento cruel a que muitas mulheres e homens, com uma orientação sexual diferente da estabelecida, eram submetidos. As sequelas, essas, poderiam tornar muito difícil uma vida já de si bastante dificultada.
Três décadas depois, a homossexualidade já não é considerada uma doença, mas a diferença ainda é motivo para o escárnio e para o insulto. Quantos homens e mulheres se escondem ainda dentro do armário, sós e angustiados por não poderem ser o que são: simples homens e mulheres com desejos, sonhos e ambições em tudo semelhantes aos dos considerados "normais"?