segunda-feira, 9 de março de 2009

Igualdade

Ontem comemorou-se o Dia Internacional da Mulher e não o celebrei. Na verdade não gosto de o fazer e para mim este é apenas o dia em que passam anos desde que tirei a carta de condução (já lá vão 10).
A razão para a não comemoração é muito simples. Ao contrário de muitas mulheres que se regozijam por terem um dia dedicado a si, eu entristezo porque ele existe.
Não, não se trata de orgulho de quem não quer receber atenção por se achar igual ou suficientemente forte face aos seus pares do sexo masculino. Nada disso. Trata-se sim da tomada de consciência de que este dia só existe porque num determinado momento centenas de mulheres quiseram pôr um ponto final a séculos e séculos de discriminação sexual e sentiram a necessidade de começar a lutar e a reivindicar por direitos iguais aos dos homens.
Mais grave do que isso, existe ainda para nos lembrar que essa é uma luta que infelizmente está longe de terminar.
Em muitos países, sobretudo nos de Terceiro Mundo, mas não só (e isso ainda é mais grave), as mulheres continuam a ser discriminadas relativamente ao sexo masculino. São elas que em média ganham menos; que continuam a despender mais horas com as lides domésticas e a cuidar dos filhos; são elas que têm menos acesso à Educação, sendo entre as meninas que há maiores taxas de analfabetismo a nível mundial; são elas que continuam a receber mais maus tratos por parte dos companheiros/cônjuges; são elas as mais castigadas pelo fanatismo religioso... entre um sem número de factos que, infelizmente, ninguém é capaz de contrariar.
Não é menos verdade que muitos foram os progressos alcançados no último século e meio. Mas também sinto que alguns aspectos poderiam ser bem melhores.
Ainda há poucos meses o meu irmão comentava comigo que estava surpreendido com a quantidade de casais jovens em que há alguma desigualdade em casa, com o peso das tarefas domésticas a recair em cima do elemento do sexo feminino. Dizia-me ele que há uns anos pensava que essa diferença se dissiparia precisamente com a nossa geração.
Questiono-me se essa realidade não será culpa das próprias mulheres. Primeiro das mães, que educaram os filhos, depois, das esposas/companheiras que tole(ra)ram essa diferença e pouco fazem/fizeram para contrariá-la.
Lembro-me de um episódio da minha adolescência que retrata muito isto. Certa noite, depois de jantar (normalmente eu e o meu irmão terminávamos de comer primeiro e seguíamos para os quartos ou para a sala ver televisão e a mãe ficava com o pai a terminar a refeição. Era costume ela deixar a loiça em cima da bancada da cozinha pronta a lavar), a minha mãe vem ter comigo e com o meu irmão e dirige-se a mim: "Carla, está lá a loiça para lavar!". O meu irmão ao ouvir aquilo insurgiu-se e respondeu-lhe: "Porque é que estás a mandar a Carla lavar a loiça se nem sabes se é a vez dela? Só tens de dizer que está lá a loiça, quem a lava é connosco. Que tendência, sempre a mandares a Carla fazer isto ou aquilo!".
Tive sempre muita sorte por ter um irmão que tinha um instinto mais feminista que muitas mulheres, inclusive do que a nossa mãe. Apesar de haver uma partilha de tarefas domésticas entre mim e o meu irmão, que a minha mãe conhecia perfeitamente, ela tinha sempre a tendência para me chamar a mim e nunca a ele.
Como a minha mãe, muitas outras mães, contribuíram para essa diferenciação nas suas próprias casas e, com isso, para o perpetuar de uma discriminação que elas próprias tinham sentido na pele toda a sua vida. Em vez de usarem a Educação, afinal a arma mais preciosa e eficaz que tinham ao seu dispor, para contrariarem o rumo da história, desprezaram-na e perderam uma oportunidade de tornar o mundo mais igualitário.
Claro que há muitos homens como o meu irmão. Felizmente! E a todos elogio por serem capazes de tornar o mundo menos desigual. Mas gostaria que um dia pudéssemos apenas dizer que dantes se comemorava o Dia Internacional da Mulher porque havia desigualdades entre sexos, mas que agora comemorava-se o Dia da Igualdade porque já não havia lugar a discriminações por sexo (quiçá, de nenhum tipo?).
Mas o melhor é continuar a sonhar...

Mudança

Este fim-de-semana fiz as primeiras mudanças para a minha casa! É verdade que já tinha levado muita coisa, mas também não é mentira que a grande maioria foram coisas compradas de raíz e a estrear, sobretudo para a cozinha, a única divisão da casa realmente equipada (pronto, talvez ainda falte uma pecinha ou outra, mas isso já são preciosismos dos quais nem vale a pena falar).
Mas ontem já levei toda a roupa e calçado de Verão, peças que deixaram vagos alguns espaços na casa dos pais (falando neles, acho que finalmente começam a tomar consciência de que vou partir e não gostam da ideia. À mãe já tinha visto surgir umas lágrimas nos olhos, mas o pai só agora começa a dar sinal de quem não tem vontade de se separar do mais novo elemento da sua prole).
Finalmente tenho o tão desejado roupeiro!! E também consegui encomendar uma mesa de centro que estava esgotada há mais de um mês e meio. Pouco a pouco parece que a sorte vai mudando e Março parece surgir como o mês de viragem e da tão almejada mudança!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Já tinha dito que a história por vezes parece repetir-se, não já? É impressionante a semelhança entre factos que vão acontecendo ciclicamente na nossa vida. Nem tudo pode ser mau...

domingo, 1 de março de 2009

My way

A propósito da leitura do livro Maktub, de Paulo Coelho (sim, o mesmo cuja escrita referi aqui há tempos não apreciar e da qual continuo a não ser fã), que uma amiga me emprestou recentemente, li este pensamento que muito faz sentido para mim:
«Seguir um sonho tem um preço. Pode exigir que abandonemos os velhos hábitos, pode fazer-nos passar dificuldades, ter decepções, etc. Mas, por mais alto que seja esse preço, nunca é tão alto como o que é pago por quem não viveu a sua Lenda Pessoal. Porque esses, um dia, vão olhar para trás e vão ver tudo o que fizeram e ouvir o próprio coração dizer: "Desperdicei a minha vida."»
Não creio que alguém possa olhar para trás e dizer que de nada se arrepende do seu passado. Todos nós nos arrependemos e desejamos ter feito algo de forma diferente daquilo que fizemos. É normal que assim seja. Faz parte do percurso que é a vida, a nossa vida. Faz parte do tal processo de crescimento que tantas vezes nos pode causar dor, mas que inevitavelmente nos traz amadurecimento pessoal.
Dizia eu hoje a um amigo meu que às vezes dou por mim a pensar se o que vivi no último ano não teria sido o pior que me tinha acontecido, ao que ele contrapôs que não, que, ultrapassada a decepção em definitivo, iria guardar precisamente a ideia contrária e concluir que tinha sido bom, que me tinha amadurecido.
Acho sinceramente que ele tem razão. Se me perguntarem se me arrependo dessa luta, não terei a menor hesitação em responder que não. No fundo segui sempre aquilo que achava ser o meu desejo. Vivi à minha maneira, segundo o que achava ser o melhor para mim. "Antes arrepender-me do que fiz do que por não tê-lo feito". Esta foi, é e será sempre a máxima pela qual regerei a minha vida.
Seria bem pior estar agora a pensar no que é que teria perdido se não tivesse arriscado. Assim, posso ao menos pensar que fiz sempre o que estava ao meu alcance para que resultasse, sem o orgulho que tantas vezes nos impede de nos darmos aos outros, que nos impede de viver por não querermos abdicar, por não querermos dar-nos ao trabalho...
Se teria feito coisas diferentes? Sim, sem dúvida. Faz parte do processo de crescimento perceber que há coisas que não resultam e que, sendo diferentes, poderiam ter dimanado em algo muito mais frutuoso. Afinal é por isso que se diz que se aprende com os erros...
Errar é arrependermo-nos. Mas não há erro e verdadeiro arrependimento se simplesmente não se tiver vivido...
Um dia, quando for velhinha, quero poder olhar para trás e dizer: Vivi a minha vida e fi-lo à minha maneira...




And now, the end is near;
And so I face the final curtain.
My friend, I'll say it clear,
I'll state my case, of which I'm certain.
I've lived a life that's full.
I've traveled each and evry highway;
And more, much more than this,
I did it my way.
Regrets, Ive had a few;
But then again, too few to mention.
I did what I had to do
And saw it through without exemption.
I planned each charted course;
Each careful step along the byway,
But more, much more than this,
I did it my way.
Yes, there were times, Im sure you knew
When I bit off more than I could chew.
But through it all, when there was doubt,
I ate it up and spit it out.
I faced it all and I stood tall;
And did it my way.
I've loved, I've laughed and cried.
I've had my fill; my share of losing.
And now, as tears subside,
I find it all so amusing.
To think I did all that;
And may I say - not in a shy way,
No, oh no not me,
I did it my way.
For what is a man, what has he got?
If not himself, then he has naught.
To say the things he truly feels;
And not the words of one who kneels.
The record shows I took the blows -
And did it my way!

My Way, Frank Sinatra, 1968