quarta-feira, 25 de abril de 2007

Para sempre Abril

Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.
...
Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.
Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.

A Tourada, Ary dos Santos, 1972


Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.
Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.

Uma gaivota voava, voava,
asas de vento,
coração de mar.

Como ela, somos livres,
somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.

Como ela somos livres,
somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".

Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.

Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.

Somos Livres, Ermelinda Duarte, 1974

Nasci num país de silêncio e luta
E cresci rasteiro(meu pão era curto)
Não vendi a esperança
Nem pedi meu preço
De tudo o que vi
Nunca mais me esqueço
Fui vivendo à força
De suor e fome
...
Calaram-me a boca
Cortaram-me o riso
Mas estava de pé
Quando foi preciso
Em Abril, Abril
Em Abril-sem-medo
...
Nasceram razões
Nasceram braços
Nasceram canções
Nasceram bandeiras
...
Nasceu meu país
Meu país criança
Em Abril, Abril
Tempo de mudança
Meu povo, raiz,
Dum cravo de esperança.

Com Uma Arma, Com Uma Flor, Paulo de Carvalho, 1975

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