domingo, 28 de dezembro de 2008

Respostas

Não gosto de ler Paulo Coelho. Na verdade só li um livro deste famoso escritor brasileiro, detentor de vários recordes de vendas e de tradução, mas foi o suficiente para não voltar a fazê-lo. Contudo, a entrevista que deu recentemente à revista ÚNICA foi uma das mais interessantes que li nos últimos tempos.

Dizia o autor a certa altura que «...o mal desta sociedade é querer ter resposta para tudo.» E questionava: «Porque não conviver com o mistério? Isso é importante porque o que dá à vida muito interesse é o respeito pelo mistério. Não é preciso explicar tudo e não tem explicação para tudo. Uma pergunta é uma opção aberta, uma resposta é fechar essa janela».

Por momentos senti-me visada. Senti que aquela crítica me era dirigida, pois se há pessoa que busca incessantemente uma resposta para o que acontece, essa pessoa sou eu. "Porquê?", "Qual a lógica disto?", "Por que razão aconteceu aquilo?"... São questões que recorrentemente me vêm à cabeça sem que muitas vezes encontre uma resposta que lhes sirva.

Esta contínua demanda pelo sentido das coisas, pelo desmistificar do mistério que é no fundo a vida faz parte da condição de ser-se humano. Desde sempre que o Homem procura respostas para o que O rodeia e para o que Lhe acontece e desde então que a sua ausência não Lhe traz mais do que frustração.

No meu caso a não obtenção de respostas causa-me um sentimento de insatisfação tão grande que roça mesmo a infelicidade. Deve ser por isso que mesmo pessoas que aparentemente têm tudo se sentem por vezes sem nada, vazias.

Quantos casos na História da Humanidade não existiram de pessoas geniais que, tendo o reconhecimento dos seus pares, tendo sucesso, amor... se auto-destruíram por lhes faltar algo, por lhes faltar a felicidade da obtenção de algumas respostas que têm tanto de inalcansável como de destruidor?

Não foi por ler esta entrevista que pensei neste duelo resposta vs felicidade. Há anos que penso nisto, que uma questão paira na minha mente: quem é mais feliz? O que, munido de conhecimento procura ainda mais conhecimento ou aquele a quem lhe foi vedada a possibilidade de conhecer, logo, de questionar?

O alerta do Paulo Coelho não é mais do que uma dica, do que um conselho. É preciso aceitar simplesmente que não há respostas para tudo e que muitas coisas acontecem e acontecerão sem nunca sabermos porquê. Quanto mais depressa interiorizarmos isto, mais depressa nos libertamos de sentimentos tão negativos como a frustração e a insatisfação. Mais depressa poderemos ser felizes...


3 comentários:

Anónimo disse...

Eu também muitas vezes questiono quem é mais feliz???? E as respostas valem muito pouco quando comparadas com as alternativas... Chama-se vida!! Bj,k

Anónimo disse...

Completamente em sintonia.

Viajantis disse...

Como qualquer escritor, Paulo Coelho tem escritos fantásticos e outros menos felizes.
Recordo "Na margem do rio piedra eu sentie e chorei" e o "manual do guerreiro da luz", os primeiros que li! adorei.
É bom capacitar-nos que nem sempre conseguimos resposta para tudo e que, no fundo, apenas nos é possivel dominar, e compreender integralmente, o nosso Eu...