segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Esperança - armadilha ou salvação?

A propósito do filme Changeling (A Troca), de Clint Eastwood, e que conta a história verídica do desapareciemnto de Walter Collins e da sua incansável procura por parte da mãe, Christine Collins, veio-me à memória uma afirmação que uma amiga minha fez há uns tempos sobre Esperança.
Escrevia ela que «a esperança é um erro… um erro incomensurável. É a armadilha que criamos para nos convencermos de que um dia tudo será como dantes... (...) Esperar é morrer… é definitivamente morrer lentamente na saudade. (...) Não acaba… nunca acaba…mas custa tanto largar…deixar cair, abandonar e perder tudo o que é nosso e voltar a amar.»
Lembro-me que quando li estas frases hesitei em emitir uma opinião. Não tinha a certeza se concordava ou se, pelo contrário, discordava. Mas quando vi o filme que termina com Christine, risonha, a dizer que naquele momento tinha algo que já não tinha há muito tempo que era a esperança, concordei com a minha amiga, se não totalmente, pelo menos em parte.
Naquele instante tomei consciência de que a Esperança é um estado ambíguo, que tanto pode ser benéfico como pode também assumir-se como a mais terrível das armadilhas de que falava a minha amiga.
A Esperança pode cegar-nos e impedir-nos de encerrar capítulos e, consequentemente, vedar-nos o vislumbre de uma perspectiva de vida diferente. Pode impedir-nos de fazer um luto, como foi o caso daquela mulher que viveu para sempre à espera de voltar a ter uma vida que, sabemos hoje, não seria nunca mais possível. Pode levar-nos a viver num estado de incerteza e de sobressalto permanente, como se nunca pudéssemos voltar a ter paz na nossa vida.
A Esperança pode ser enganadora porque, na ilusão de voltarmos a ter o que tivemos, impede-nos de viver o que podemos ter de novo. Impede-nos de refazer a vida.
Mas como estado ambíguo que é, a sua perspectiva muda se também mudarem as circunstâncias em que é vivido. E se em vez de vivermos com a ideia de que tudo volte a ser como dantes, vivermos com a ideia de que o passado não volta mas que o futuro, esse sim, virá para ser vivido com o fulgor e a excitação com que se vive o desconhecido pela primeira vez?
Hoje vivo sob esta última perspectiva. Sei que não volto a ter o que tive, mas acredito que posso vir a viver algo ainda muito melhor. Essa é hoje a minha esperança e é isso que me faz continuar.

2 comentários:

Anónimo disse...

A esperança num futuro melhor (nos sentidos físico, material e emocional) é um dos motores da Humanidade.
Beijinhos

Anónimo disse...

Não diria melhor :)
Beijo Mestra