sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Origens

Não tenho um filme preferido porque gostei de muitos dos que vi ao longo dos anos mas, se tivesse de escolher um, escolheria um clássico a que assisti mais do que uma vez e que, pela carga dramática que o argumento encerra, tanto me cativou e continua a cativar.

E TUDO O VENTO LEVOU fascinou-me e continua a fascinar-me até hoje. É uma história com muitos atractivos, mas é a personagem da Scarlett O'Hara, tão brilhantemente protagonizada pela actriz Vivien Leigh, que tenho presente na minha memória como uma referência do filme e daquilo que não quero seguir na minha vida.

Scarlett viveu toda a sua vida uma mentira. Viveu na ilusão de amar quem afinal não amava e descobriu tardiamente que tinha deixado fugir quem sempre verdadeiramente amou. Pior do que isso, disse-lho tarde demais.

Sempre pensei que muitas pessoas, tal como esta personagem, não vivem por não serem capazes de perceber de que forma e com quem querem verdadeiramente viver. Há quem, tal como esta personagem, viva uma mentira. Há quem não viva por simplesmente não ser capaz de assumir que, e como, quer viver.

Este exemplo não poderia vir mais a propósito numa altura em que faço o balanço de mais um ano que termina. Pensei muito e conversei bastante com uma querida amiga sobre o que me trouxe 2010. Disse-lhe que sentia que não tinha acontecido nada de especial este ano, disse-lhe que tinha sido um ano perdido. Entre outras coisas, disse-me ela que eu estava enganada, que este ano tinha sido um ano de transição, mas só hoje percebi o que ela queria dizer realmente com aquilo e sim, olhando para o passado e para o presente, este foi mesmo o ano da transição do passado para o futuro! O ano em que, mesmo no fim, se fez luz!

A propósito de um envolvimento recente, percebi de que forma quero realmente viver e concluí que quero viver em pleno, nunca numa mentira! E que, para o fazer, tenho de voltar às origens. Tenho de ser fiel a mim mesma e aos meus valores mais antigos. Percebi que não me interessa viver só com a metade, que não me pode trazer a felicidade, e que só faz sentido viver com o todo. Que só faz sentido alimentar o corpo, se alimentar também a alma...

No fim do filme, Scarlett O'Hara também pensa nas origens e na terra que a viu nascer. É para Tara que ela pensa ir fortalecer-se para reconquistar Rhett Butler, porque afinal, "amanhã é outro dia" ou será outro ano?

Um excelente 2011 para todos nós.

P.S. Este ano duas queridas amigas minhas perderam a mãe. Foi um momento doloroso, cujas sequelas ainda se fazem sentir para elas e para todos os que com elas privam. Hoje mesmo um outro grande amigo sofre com o pai no hospital, a esgotar o último sopro de vida. Não tem sido fácil para eles e partilho da sua dor. Felizmente para mim, hoje tive como companhia para o último almoço do ano os meus pais, que se revelaram este ano, mais do que nunca, pilares de conforto e estabilidade para mim. Tenho sorte por tê-los ainda comigo. Oxalá possamos partilhar muitos mais almoços em conjunto. Beijinhos para eles.

P.S.1 É impressionante como estive meio-ano sem escrever! Que este texto de final de ano possa ser o recomeço da escrita.