quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Agridoce

Ainda faltam cinquenta e dois dias para o final de 2006, mas já sinto a necessidade de fazer um balanço do que foi este ano e do que ele significou para mim. Preciso de pesá-lo, de analisá-lo e de contabilizá-lo para saber até que ponto esta empresa que é a minha vida se encontra de boa saúde e preparada para enfrentar mais um ano que se avizinha.

Reflicto e concluo sem dificuldade que este ficará na minha memória como um ano agridoce. Um ano que recordarei sempre com um misto de saudade e de mágoa, de alegria e de tristeza, de prazer e de dor... de esperança e de desilusão... Um ano marcado por sentimentos opostos que em nada são contraditórios. Pelo menos para mim, estes são sentimentos que se complementam e que reflectem bem a dualidade do meu ser. Quem me conhece sabe bem que sou capaz dos maiores estados de euforia, da maior e mais contagiante alegria, mas também de momentos mais soturnos e nostálgicos. Como diria Jorge Palma, "tenho duas almas em guerra e sei que nenhuma vai ganhar". Ambas sou eu.

Comecei o ano com uma derrota, mas embalada na esperança de alcançar uma vitória. Falhei e, em vez disso, obtive um empate. Não consegui o resultado que pretendia, mas nem tudo se perdeu. Por mais dor que tenha sentido, vivi momentos fantásticos e que não mais se repetirão.

Tenho mais presente do que nunca a importância da amizade e de como esta não se deixa abater pela força da separação física. Acredito ainda mais do que ontem que quando duas pessoas se gostam jamais se separam só porque vivem longe uma da outra e que nenhuma desculpa é mais forte do que a amizade, o mais nobre de todos os tipos de amor.

Sei que quando alguém me diz que é meu amigo e que me quer bem não basta dizê-lo, tem também de demonstrá-lo e de senti-lo. Em qualquer relação, um acto vale mais do que mil palavras e a reciprocidade deverá ser uma máxima a seguir.

Também hoje sei mais do que no passado que Lavoisier estava certo ao afirmar que "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". É assim com as relações. Estas não têm de terminar só porque o sentimento muda. Não é porque deixei de amar da mesma forma aquela pessoa com quem partilhei um amor tão puro e genuíno que a vou tirar da minha vida. Não, pelo contrário. O que vivemos foi tão importante e estruturador daquilo que sou hoje, que não faria qualquer sentido passar uma esponja por cima e fingir que não existiu. Não deixei de amá-la, apenas a quero de outra forma, mas quero-a. Preciso dela e da sua amizade, tal como no passado precisei da sua paixão e do seu amor.

Em jeito de balanço e, não obstante as dúvidas que me assaltam de quando a quando, sei que sou hoje uma pessoa mais madura e mais confiante. E sei também em quem vale realmente a pena investir o meu amor e a minha amizade.

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Acreditar

Só hoje terminei de ler o último número da revista Visão e uma das reportagens desta semana versava sobre a sede operacional da Netjets Europe, que está sediada em Paço de Arcos. Para quem não sabe, trata-se de uma empresa que gere e opera uma frota de jactos executivos, prestando um serviço tipo táxi aéreo.

Na verdade, não é sobre a empresa que quero falar, mas sobre algo que o seu presidente em Portugal referiu ao ser questionado se tem sido difícil recrutar trabalhadores no nosso país. William Kelly, nascido na Irlanda, a menina dos olhos da UE em termos de crescimento económico e aposta na formação, respondeu assim: "Tem sido fácil encontrá-los e ainda nos podemos orgulhar de, no nosso call center, se falarem 25 línguas diferentes. É fenomenal. Dizem que o ensino funciona mal em Portugal, mas, aqui, vejo o contrário. Estou impressionado com as qualificações dos nossos trabalhadores."

No outro dia alguém comentava, não me lembro quem nem em que publicação, qualquer coisa como não há nada que os portugueses mais gostem do que serem elogiados pelos outros povos. É como se precisássemos de o ouvir dos outros para acreditarmos. Será a nossa auto-estima assim tão baixa que não saibamos o nosso potencial? Sofreremos de alguma espécie de cegueira parcial que só nos deixa ver os nossos e, consequentemente, os aspectos negativos do nosso país?

É óbvio que há imensas coisas a trabalhar para podermos ser melhores. As coisas não estão fáceis e as secções de Economia estão aí para o constatar, mas também há aspectos positivos que têm que ser lembrados e enaltecidos. É preciso que todos tenham a consciência das suas capacidades e de como poderão potenciá-las. Acima de tudo é preciso acreditar. Acreditar que é possível fazer bem e até melhor do que os outros.

Nunca ouvi dizer que negativismo ou comiseração trouxessem qualquer proveito, pelo contrário. Há que ser optimista, pois optimismo atrai boa sorte e esta consegue-se, sobretudo, acreditando que com eficiência e trabalho é possível atingi-la. Não podemos é estar à espera que sejam os outros a abrir-nos os olhos.

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Sentir

Sinto-me feliz! Não, não estou louca. Tenho a consciência de que a felicidade é um estado quase inatingível. Quase, mas não impossível de alcançar. Todos nós somos felizes alguma vez na vida, se tivermos sorte, várias vezes até. Na verdade, o que caracteriza este sentimento não é a sua inacessibilidade mas a sua fogacidade e é isso que o torna único e especial. Não há ninguém que não ambicione, que não deseje ser feliz e que para o conseguir arrisque tudo. Pouco importa os meios utilizados, se é preciso conseguir um bom emprego, casar e ter filhos, enriquecer à custa de assaltos ou do tráfico de droga, por exemplo. O que move o ser humano não é o dinheiro, o poder ou o amor, estes são apenas meios para atingir única e exclusivamente uma coisa: a felicidade.

Essa é também a minha demanda. E não há nada melhor na vida do que ter um objectivo, não há nada que nos faça sentir mais vivos do que saber que caminhamos para algo, para a felicidade.

Lá fora o céu desaba sob a forma de um dilúvio, a torrente é estrondosa e nem sequer faltam trovões, mas eu sinto-me bem, estou protegida no meu quarto que é também o meu refúgio, embrenhada na noite e a escrever. Lembro-me do passado, mas é no futuro que penso e por isso sinto-me feliz. Porque este é um sentimento impregnado de esperança, que transborda de confiança e porque, acima de tudo, o sinto.

Não há melhor prenúncio que sentir, que ter aquilo a que os anglo-saxónicos chamam feeling. Acreditar que vamos conseguir concretizar algo e atingir o nosso momento de felicidade. As coisas até poderão não resultar da mesma forma que sentimos que resultariam, mas só a ideia de sentirmos que podem de facto acontecer como desejámos que acontecessem permite-nos crescer e tornar-nos pessoas mais completas e realizadas.

Na verdade, pouco importa sequer se ainda não sei o que é que está na base desse feeling. Sei que chegará a hora em que sentirei que é aquilo e que para aquilo terei de caminhar e isso basta para me sentir feliz. Porque afinal a chuva é fértil e o meu coração foi hoje inundado de esperança...

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Lonely Sky

That cold North wind they call "La Bise"
is swirling round about my knees
Trees are crying leaves into the river;
I'm huddled in this French cafe
I never thought I'd see the day,
When winter's here and summer's really over,

And even the birds have packed up and gone,
They're flying south with their song,
And my love, she too has gone, she had to fly.

Take care, it's such a lonely sky,
They'll trap your wings my love and hold your flight,
They'll build a cage and steal your only sky,
Fly away, fly to me, fly when the wind is high,
I'm sailing beside you in your lonely sky...

The old cathedral lights are low
She and I we'd often go there
To admire and sometimes kneel in prayer;

Lords and ladies lie in stone,
Hand in hand from long ago,
And though their hands are cold they'll love forever,

Even the choir rehearses those songs
For Christmas is not long.
And alone, I sing my song, she had to fly.

Take care, it's such a lonely sky,
They'll trap your wings my love and hold your flight,
They'll build a cage and steal your only sky,
Fly away, fly to me, fly when the wind is high,
I'm sailing beside you in your lonely sky...
Fly away, fly to me, and if you need my love,
I'm sailing beside you in your lonely sky...
I'll come in with the dawn,
I'm sailing beside you in your lonely sky...
On the wings of the mourn,
I'm sailing beside you in your lonely sky...
Above the world we'll be flying,
I'm sailing beside you in your lonely sky...

Chris de Burgh, 1975



Custa-me admiti-lo, mas ainda mexes comigo. Tento ser racional (afinal uma das minhas principais características), mas o arrepio que sinto atravessar o meu corpo sempre que dás sinal de vida revela que o que sinto por ti é tudo menos fruto da razão.
Passaram-se meses e esse sentimento, que julgava (ou queria acreditar) adormecido, evadiu-se do lugar recôndito da minha memória para, qual monstrengo em noite de tempestade, tornar a assombrar o meu pensamento.
Não queria que fosse assim, podes crer. Irrito-me, chateio-me, sofro por reconhecê-lo, mas padeço mais ainda por senti-lo, por vivê-lo...



segunda-feira, 25 de setembro de 2006

A força das relações interpessoais

Há fins-de-semana em que não acontece nada digno de registo. Há outros, como este, ricos em eventos que nos fazem reflectir.
Para mim, este fim-de-semana começou logo na Sexta-feira com uma ida ao teatro. Em Oeiras, no Auditório Municipal Eunice Muñoz, assisti a uma excelente interpretação da mulher que dá o nome à sala de espectáculos. Aos 81 anos, Eunice Muñoz mostra por que razão é considerada por muitos a melhor actriz portuguesa. Na pele de Miss Daisy, a actriz, juntamente com Guilherme Filipe e Thiago Justino (grande interpretação no papel de Hoke Coleburn) leva-nos numa viagem ao passado que de ultrapassado nada tem.

Escrita por Alfred Uhry, "Driving Miss Daisy" estreou pela primeira vez em Nova Iorque, em 1987, e conta a história de amizade entre uma idosa judia sulista e o seu motorista afro-americano. A primeira, uma mulher rica, culta e independente. O segundo, um homem pobre, analfabeto e marcado pela violência do racismo. Dir-se-ia que estas duas pessoas nada têm em comum que as possa levar para lá de uma relação estritamente contratual. Mas as aparências de facto iludem e, com o desenrolar da estória, apercebemo-nos que aquelas duas pessoas, tão diferentes entre si, caminham na mesma direcção, acabando por se tornarem no melhor amigo um do outro.

Ao longo de 25 anos, Miss Daisy e o seu motorista Hoke não só partilham o tempo, mas também lembranças, tristezas e alegrias. A diferença que inicialmente os separava e que era o reflexo da própria sociedade em que viviam, revela-se uma mais-valia para ambos. O motorista, que pensava nunca conseguir fazer mais do que ver as imagens do jornal, aprende a ler e a professora, que julgava poder viver sem a ajuda de ninguém, aprende que sozinha não é nada. A força da amizade que os une é por si só a prova de que as suas vidas têm significado e que quem tem amigos nunca está só.


No Sábado fui até ao cinema São Jorge ver o filme "Electroshock", um entre os muitos que fizeram parte do cartaz do 10.º Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa. Trata-se de uma estória simples, um pouco rudimentar do ponto de vista técnico, mas de uma forte carga dramática e emotiva. Também aqui se revela a importância do outro nas nossas vidas.

Algures no passado franquista da década de 70, duas mulheres, professoras, conhecem-se e a relação de amizade que as aproxima transforma-se numa relação do mais dedicado amor que o preconceito e a ignorância de uma sociedade fechada sobre si mesma tenta destruir com electrochoques.

Numa época em que homossexualidade ainda era considerada pela Organização Mundial de Saúde como doença, aquele era o tratamento cruel a que muitas mulheres e homens, com uma orientação sexual diferente da estabelecida, eram submetidos. As sequelas, essas, poderiam tornar muito difícil uma vida já de si bastante dificultada.

Três décadas depois, a homossexualidade já não é considerada uma doença, mas a diferença ainda é motivo para o escárnio e para o insulto. Quantos homens e mulheres se escondem ainda dentro do armário, sós e angustiados por não poderem ser o que são: simples homens e mulheres com desejos, sonhos e ambições em tudo semelhantes aos dos considerados "normais"?

domingo, 24 de setembro de 2006

Lembranças

Ainda te lembras?
Do teu ar malandro quando fazias deslizar a tua mão pela minha coxa e do teu riso meio nervoso sempre que insistias para que te desse um beijo.


Ainda te lembras?
Do quanto me desafiavas e como isso te divertia. Afinal, tu eras o gato e eu o rato numa perseguição quase consentida.
De como me desejavas e acreditavas que eu seria tua, tornando possível o impossível.

Ainda te lembras?
Da primeira vez que te vi/ouvi tocar e o quanto a tua elegante presença me fez arrepiar.
De como naquele momento a tua guitarra era eu e eu era a guitarra que vibrava com o teu suave dedilhar.


Amar-te e ser amada era novidade para mim e para ti. Por isso, em conjunto crescemos com as primeiras descobertas, com a partilha da primeira carícia, do primeiro beijo, da primeira noite de paixão... Em conjunto explorámos os nossos corpos e descobrimos o prazer que aflora quando duas pessoas se amam.





terça-feira, 19 de setembro de 2006

Felicidade para lá do sexo

No último número da revista Sábado saiu um artigo sobre um tema tão curioso quanto interessante: Assexualidade. Na verdade, o artigo dá-nos a conhecer pessoas (algumas casadas) que vivem felizes com a ausência de desejo ou consumação sexual. Alguns já o sentiram e deixaram de o sentir, outros simplesmente nunca conheceram o desejo sexual nem sabem o que é sentirem-se atraídos sexualmente por outros.

Segundo o mesmo artigo, e citando um estudo realizado por Anthony Bogaert, um estudioso canadiano sobre a sexualidade humana, um em cada cem adultos é assexual. Nos EUA, um estudo publicado no jornal Psychology Today diz-nos que 25% da população adulta estado-unidense sofre de falta de desejo.

Muitas vezes trata-se de pessoas saudáveis e sem traumas associados ao sexo ou ao corpo humano. A sua vida é tão ou mais feliz do que a dos outros. Simplesmente o sexo não é uma necessidade que desejam concretizar.

Numa sociedade tão sexual como a nossa, em que diariamente somos bombardeados com imagens sugestivas, seja em anúncios publicitários (lembro-me de alguns bem recentes a uma conhecida marca de cerveja nacional) ou em telenovelas (a SIC acaba de estrear uma nova produção ficcional cujo principal trunfo parece ser a presença de cenas de sexo, tantas vezes publicitada nas semanas que antecederam a sua estreia), não desejar alguém parece, no mínimo, uma aberração, dirão uns. Parece, mas não é, digo eu.

O que torna este mundo tão complexo e fascinante é precisamente a diversidade que nele podemos encontrar. É na diferença relativamente aos outros que encontramos a comunhão da partilha. De que serve conversar com alguém cujas mundivivências e mundividências são apenas mais do mesmo que eu tenho para partilhar?

Na minha opinião, é na diferença que podemos encontrar a união. Se quisermos pensar numa perspectiva sistémica, cada um de nós é uma parte de um todo que não é mais do que o mundo em que vivemos. Só que esse todo não é simplesmente a soma das partes, mas sim aquilo que a sua diversidade acrescenta e enriquece, imprimindo-lhe um movimento sempre perpétuo.
Como eu queria dizer-te que te quero,
Que preciso de ti como do pão para a boca,
Que te desejo e desespero...

Como gostaria de sentir o teu toque,
De saciar a minha sede nos teus lábios
E beijar-te como uma mulher que arde de luxúria.

Ah, e queria envolver-te nos meus braços,
Apertar-te contra o meu peito
E amar-te, amar-te até os nossos dois corpos ficarem cansados.

Queria contar-te os meus pensamentos,
As minhas fantasias e sonhos.
Queria partilhar as alegrias e esquecer as tristezas.
Queria mostrar-te o que de mais belo e puro há no meu ser.

Sou cobarde, eu sei.
Receio afastar-te só por te dizer que te amo,
De perder essa preciosa visão que é o teu sorriso.

Falta-me a coragem de arriscar e surpreender-te,
De me surpreender a mim própria.
Preciso de ti, do teu empurrão, da tua confiança transbordante.

Mas talvez não sejam precisas palavras.
Talvez sintas as vibrações que saem do meu corpo
E percebas o meu olhar suplicante.
Aí os nossos olhos cor-de-mel encontrar-se-ão e dirão a uma só voz:
AMO-TE!


06/02/2006

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Noite

"À noite, à noite, à noite, ela olha para o tecto e põe-se a pensar
À noite, à noite, à noite, ela põe-se a recordar
À noite, à noite, à noite, ela põe-se a sonhar, a sonhar
À noite, à noite, à noite, à noite..."

Noite
Pedro Barroso


"Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda de noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram."

Estrela da Tarde
Ary dos Santos